quarta-feira, 3 de junho de 2015

A arte de esperar (ou do auto boicote)



Ela acordou atrasada, mais uma vez, e recorreu às anotações amassadas, manchadas com pingos de café, para, em mais uma tentativa frustrada, buscar uma resposta à sua mania.

Assim como muitos, ela tinha uma mania boba de esperar. Talvez a mania tenha surgido com a vida, que nos faz esperar por tantas coisas. Pelo ônibus, pela roupa úmida no varal, pelo bolo no forno, pelo sorriso gratuito, pelo amor...

Ah, o amor! Esse incansável fanfarrão que parece que vai chegar e parar o mundo, gelar a boca do estômago, te virar de ponta cabeça. Mas, para ela, este era também apenas mais uma de suas esperas.

Ela queria ir à Europa. Mas, decidiu que esperaria uma condição financeira apropriada. E também, que esperaria um lindo príncipe para deixar a jornada mais divertida.

O príncipe, ah, este deve estar por aí esperando por várias outras coisas, menos por ela.

E os dias seguiam assim, à espera por uma proposta de emprego melhor, à espera de conseguir um tempo para encontrar com amigos, à espera de tempo para cuidar de si, à espera do sono, que se perdia noite após noite de tanto pensar nas coisas que pediam tanta espera.

E os dias continuavam iguais. Ela esperava que tudo mudasse, mas as mudanças esperavam que ela parasse tanto de esperar.

E ela esperou o café ficar pronto, esperou seus olhos passarem lentamente em cada uma daquelas anotações amassadas, esperou encontrar uma resposta às inúmeras perguntas que nunca fez, pois esperava o momento certo para dizer.

Saiu de casa com a cara ainda amassada, típica de quem não esperava que a manhã chegasse tão depressa. Esperou pelo ônibus, lembrou da roupa úmida no varal e do bolo que a esperava quando retornasse para casa. Esperou um sorriso gratuito, esperou pelo amor, que não a esperou, porque não sabia que ela o estava esperando.

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